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Indústria poderia contribuir muito mais
O Brasil perdeu a capacidade de se indignar diante de problemas relevantes. A rotineira revisão para pior dos indicadores econômicos do País já não surpreende. E nem poderia, pois não podemos querer colher algo que não plantamos.
Há cinco anos o Movimento Brasil Eficiente (MBE), além de outros economistas e lideranças, vem alertando que o crescimento dos salários não pode descolar do crescimento da produtividade, que consumo não sustenta a expansão da economia no médio prazo, que o Brasil vem investindo muito abaixo do necessário para poder crescer mais e de forma consistente, que estamos nos tornando um país caro, que o Custo Brasil vem comprometendo a competitividade de mais e mais setores da nossa economia, especialmente da indústria de transformação, o setor mais dinâmico da economia e que mais poderia contribuir com o avanço da produtividade.
Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas e um dos fundadores do MBE, atribui a estagnação da economia brasileira à destruição da indústria manufatureira no País, provocada por longos anos de juros elevados, taxa de câmbio apreciada e contínua elevação da carga tributária. A solução passaria por um corte nas despesas correntes do governo que abriria espaço para a redução de impostos e da taxa de juros, de um lado, e aumento de investimentos públicos e privados, de outro.
Na quarta edição do ranking de competitividade elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que avalia os 15 principais concorrentes do País no mercado externo, como China, Índia, México, Austrália e Canadá, o Brasil continua na penúltima posição, à frente só da Argentina. Reduzir o Custo Brasil, diz a entidade, estimulará os investimentos para melhorar a produtividade das empresas.
Outro ranking que coloca o Brasil na vice-lanterna foi o elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), medindo o desempenho da indústria em 37 países no período de janeiro de 2011 a junho de 2015. Pior do que a queda de 9,2% em nosso país, apenas o recuo de 16,1% na Grécia, que passa por problemas conhecidos por todos. Enquanto isso, na Rússia a indústria cresceu 6,7%, no México 8,3%, no Chile 10,6%, na Alemanha 11,8%, na Índia 12,5%, nos Estados Unidos 13,3%, na Turquia 24,9% e na Eslováquia 31,8%.
Levantamento da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), sobre o comportamento da indústria brasileira no período de janeiro a maio de 2015, comparado ao mesmo período do ano anterior, indica queda de 6,9% para a produção e de 7,3% para as vendas, números que se agravaram substancialmente nos meses seguintes.
O setor passa hoje certamente por um dos recuos mais significativos das últimas décadas, mesmo com algum alívio proporcionado pela retomada das exportações em função da depreciação do câmbio que permitirá uma queda do deficit da balança comercial de manufaturados para perto de US$ 80 bilhões na previsão do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, contra um saldo negativo de US$ 109,4 bilhões em 2014. Não custa lembrar que até 2006 o Brasil apresentava saldo positivo nessa conta.
CARLOS RODOLFO SCHNEIDER é empresário e coordenador do Movimento Brasil Eficiente (MBE).
Fonte: Folha de Londrina - Opinião.
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